A formação de famílias adotivas é algo repleto de expectativas, tanto para os pais quanto para a criança ou adolescente. Mas, infelizmente, esse ainda é um assunto cercado de estigmas, fazendo com que ele acabe sendo negligenciado ou frequentemente abordado de maneira inadequada.
Por isso, com a chegada do mês de maio, que tem datas importantes relacionadas ao tema, como o Dia Internacional da Família (15/05) e o Dia Nacional da Adoção (25/05), vale a pena abrir a reflexão sobre a importância de apoiar aqueles que estão passando por esse processo.
Assim como outros temas, a informação, o preparo e o apoio adequado fazem toda a diferença nessa jornada, permitindo que tudo transcorra da melhor forma possível para todas as partes.
O panorama da adoção no Brasil
Segundo o portal do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), há pouco mais de 5 mil crianças e adolescentes aptos para adoção no Brasil, enquanto mais de 33 mil pretendentes habilitados aguardam na fila.
No entanto, a compatibilidade entre os perfis disponíveis ainda representa uma grande lacuna. Parte dessas discrepâncias é de origem geográfica. Mais da metade dos órfãos acolhidos estão nas regiões Sudeste e Sul.
A idade de quem vai adotar é outro fator que cria obstáculos. A enorme maioria dos candidatos a adotar tem preferência por indivíduos abaixo dos oito anos, principalmente de dois a seis anos.
Ainda assim, desde 2019 cerca de 26 mil crianças e adolescentes tiveram seu processo de adoção concluído em todo o país.
As principais regras para adoção no Brasil
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), famílias adotivas podem ser formadas por pai e mãe, mãe ou pai solo, duas mães ou dois pais, desde que essas uniões estejam dentro do previsto pela legislação.
Além disso, quem busca adotar deve ter pelo menos 18 anos, com uma diferença de mais de 16 anos que a criança ou adolescente acolhido. Assim, alguém com 30 anos pode adotar alguém de no máximo 14 anos. As etapas do processo de adoção incluem:
- pré-cadastro no site do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento;
- entrega da documentação pertinente, conforme solicitado;
- registro do pedido e análise do juiz;
- habilitação dos candidatos para a etapa da “busca ativa”, em que há a procura de crianças e adolescentes dentro dos critérios desejados;
- período de convivência familiar para garantir a compatibilidade da família adotiva;
- decisão judicial com a sentença de adoção, consolidando o processo.
Alguns dos principais desafios na adaptação após o processo de adoção
É claro que todos os trâmites burocráticos são apenas uma parte do que é necessário para que a formação da nova família se dê da melhor maneira possível. Entre os aspectos emocionais, afetivos e psicológicos que merecem a devida atenção de todos os envolvidos estão:
- construção do vínculo afetivo, uma vez que a conexão entre pais e filhos não acontece instantaneamente. Ele precisa ser cultivado com paciência, respeito ao tempo da criança e demonstrações constantes de afeto e segurança;
- processamento de períodos de dificuldade, levando em conta que muitas crianças adotadas carregam experiências difíceis. Assim sendo, o acompanhamento psicológico pode ser fundamental para ajudá-las a elaborar suas vivências e facilitar o novo momento;
- adaptação à nova rotina, o que pode exigir tempo e paciência para consolidar uma rotina previsível e acolhedora para a criança;
- inclusão na dinâmica familiar, sobretudo para ajustar expectativas e incentivar a participação ativa da criança no dia a dia da nova família.
Por mais que seja algo que ninguém deseja, a falta do suporte necessário diante de tais intercorrências no convívio pode desencadear a desistência da adoção, inclusive por conta do desejo da criança ou do adolescente em não fazer parte daquela família.
Os caminhos para uma transição saudável dentro das famílias adotivas
Não existe receita mágica para minimizar tais obstáculos e cada novo grupo familiar pode ter que lidar com desafios singulares para um cotidiano saudável. De qualquer maneira, entre os fatores que ajudam a amenizá-los estão:
- preparação emocional adequada, ou seja, os pais adotivos devem buscar informações, capacitação e apoio com profissionais especializados antes e durante o processo;
- respeito ao tempo da criança, considerando que forçar um vínculo pode gerar resistência;
- estabelecimento de um diálogo aberto e empático com todos os envolvidos para ouvir e validar emoções;
- elaboração de uma rede de apoio, diante do fato de que familiares, amigos e profissionais podem ser fundamentais nesse momento.
Recomendações para abordar o tema de modo sensível
Quem não pretende adotar uma criança, mas conhece alguém que tem o interesse em fazer isso, deve apoiar a iniciativa sem reforçar estereótipos. Dessa forma, é importante:
- evitar elogios excessivos ou condescendentes, tendo sempre a ciência de que adoção não é um ato de caridade, mas sim uma forma legítima de formar uma família;
- não fazer perguntas invasivas, respeitando a privacidade da criança e/ou adolescente;
- oferecer suporte, escuta e acolhimento sem julgamentos.
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O possível papel das empresas frente a tais desafios
O apoio dentro do ambiente de trabalho faz bastante diferença para aqueles que estão passando pelo processo de adoção ou enfrentando dificuldades na construção do vínculo afetivo.
Assim, um Programa de Apoio ao Empregado (EAP) devidamente estruturado é um grande aliado. Com suporte psicológico, orientação especializada e acesso a recursos de assistência jurídica, ele auxilia na superação dos desafios que podem se apresentar e interferir no bem-estar do colaborador.
A construção de famílias adotivas é um caminho de amor, dedicação e responsabilidade. Com paciência, apoio e conhecimento, a criação de laços se torna mais fluida e significativa, proporcionando um ambiente seguro e acolhedor para a criança.
Este conteúdo foi elaborado com carinho pela equipe da CARE Global Partners, sempre pensando no seu bem-estar e no cuidado com aqueles que você ama.