A herança digital reúne tudo que permanece online quando alguém morre: fotos, contas, perfis e mensagens. E, embora não seja prevista plenamente pela lei, ela já tem impacto real. O que acontece com esse legado quando você parte?
É urgente decidir em vida quem terá acesso às suas contas e o que deve ser feito com elas. Pensar nisso hoje ajuda familiares e herdeiros a evitar problemas legais e emocionais.
Por que a herança digital é um patrimônio real?
Você cria conteúdo digital constante em mídias sociais, aplicativos e nuvem. Esse acervo, organizado ou não, compõe seu patrimônio digital. Segundo o IBDFAM, esse tema exige ação preventiva para proteger direitos e informações sensíveis. Editar, apagar ou manter uma conta exige orientações claras de quem fica. Afinal, plataformas costumam bloquear o acesso de terceiros, mesmo em caso de falecimento.
Planeje hoje o destino da sua herança digital
Você pode escolher, por escrito, se quer que contas sejam deletadas, memorializadas ou gerenciadas por alguém de sua confiança. Empresas como Facebook e Google oferecem opções disponíveis nas configurações de conta .
Se você não definir planos, familiares enfrentarão burocracia. Cada serviço exige solicitação diferente, o que gera frustração e perdas de dados.
A lei 2338/2023 e o debate sobre IA
Um novo marco legal, o PL 2338/2023, está em tramitação. Ele define regras para o uso ético de IA e pode regulamentar também a reativação de imagem digital de pessoas mortas CNN Brasil+3Infographya+3CNBPA+3.
Ainda mais, reportagens como a da CNN Brasil destacam que o projeto prevê limites para gerar conteúdos com inteligência artificial usando imagens de falecidos. Uma questão emergente também abordada pelo Fantástico da Globo, que mostrou tecnologias que permitem “conversar” com pessoas já mortas.
Quando a ficção vira realidade: o alerta de Black Mirror sobre a IA e o luto
Esse debate, que parece saído de um roteiro de ficção científica, já foi antecipado pela série Black Mirror em 2013, no episódio “Be Right Back”. Nele, uma jovem enlutada contrata um serviço que recria digitalmente seu parceiro falecido, primeiro por mensagens, depois por voz, até chegar a um androide com aparência e comportamento idênticos ao original. O que parecia consolo se transforma em inquietação: até que ponto estamos dispostos a substituir a presença real por uma simulação emocionalmente convincente?
Hoje, essa tecnologia já existe. A plataforma Deep Reflection, por exemplo, utiliza IA para recriar a consciência digital de pessoas com base em seus dados públicos, como postagens e vídeos. A proposta é simular ideias, opiniões e até o estilo de comunicação de alguém, inclusive após sua morte. O que antes era apenas uma provocação narrativa agora se torna uma realidade que exige regulação, ética e, acima de tudo, reflexão.
O PL 2338/2023 surge, portanto, como uma tentativa de colocar limites nesse novo território emocional e tecnológico. Afinal, estamos prontos para conviver com versões digitais de quem já partiu? E mais: quem deve decidir sobre isso – os familiares, o Estado, ou os próprios algoritmos?
O que os herdeiros fazem sem planejamento
Sem instruções claras, herdeiros precisam buscar certidões, preencher formulários em inglês e lidar com empresas que nem sempre respondem. Além disso, o processo de inventariar bens digitais é confuso e custoso.
Algumas famílias contratam serviços de funeral digital, oferecidos por escritórios especializados para gerenciar essa herança com formalidade jurídica.
Ações simples que garantem sua herança digital
- Liste todas as contas e dados digitais que você possui;
- Documente instruções claras sobre cada uma (excluir, transferir, manter);
- Compartilhe esses dados com alguém de confiança ou herdeiro designado;
- Avise seus familiares sobre onde encontrar essas informações.
Contexto legal e tendências
A ausência de leis específicas cria um limbo legal. O Código Civil brasileiro herda bens de parentes próximos, mas não regula a transferência do legado digital para terceiros de confiança que não são herdeiros legais.
O novo Código Civil em discussão deve inserir o conceito de herança digital, inclusive restringir herdeiros necessários e permitir designações previas de sucessores digitais.
Herança digital e apoio emocional nas empresas
Planejar o legado digital faz parte de um processo emocional delicado. Por isso, o Programa de Apoio ao Empregado da TELUS Health powered by CARE oferece suporte psicológico para funcionários e familiares.
Além disso, nossos assistentes sociais onsite podem orientar empresas e equipes durante momentos de luto ou transições importantes, promovendo bem-estar e apoio prático.
Herança digital precisa ser pensada com clareza. Se você quer proteger seu legado online, agir hoje é cuidar do seu futuro e dos que ficam.
Este artigo foi preparado pela equipe da TELUS Health powered by CARE para inspirar reflexão e ação sobre seu patrimônio digital.